sábado, 5 de novembro de 2011

TEMPO DE APRENDIZAGEM E O SISTEMA DE CICLOS: REFLEXÃO E RELATO

Boa noite a todos.
Creio que a leitura do texto “A ESCOLA, O TEMPO E AS CRIANÇAS” pretendeu, noutras palavras, nos remeter a reflexão do sistema de ciclos e de nossas práticas, não?
Como sabemos a LDB (promulgada no governo FHC) não impôs o sistema de ciclos, mas o tornou facultativo e nossa região possui hoje o maior percentual de escolas em regime de ciclos e progressão continuada do país:

 “...verifica-se que 80,6% das escolas brasileiras de ensino fundamental têm o ensino organizado em séries, e somente 10,9% das escolas do país se organizam em ciclos. A região Sudeste possui o maior percentual de escolas em regime de ciclos e progressão continuada: 37,4%, e também teve o melhor resultado no mesmo processo de avaliação, pois 13,14% dos alunos se encontravam no estágio de aprendizagem considerado adequado.” http://www.apropucsp.org.br/revista/r21_r07.htm

Por um outro lado, e apesar desta mesma região ter tal resultado não é incomum ouvirmos, tanto do senso comum, como de alguns educadores, críticas no sentido de culpabilizar o sistema de ciclos e de progressão continuada pelo ainda baixo rendimento dos alunos. Será?

Gostaria de discutir isso com vocês... mas como esta plataforma esta longe de ser uma ferramenta facilitadora para tais discussões vou novamente falar de minhas reflexões e experiências com esse sistema.

Entender como a relação tempo-aprendizado se passa com cada um dos alunos e a necessidade de respeitar-se este tempo me parece ser ponto pacífico da questão. O problema é: como isso se dá em escolas de governos que, apesar de adotarem no papel o sistema de ciclos, não o conseguem na prática, pois  além de sua implementação ocorrer sem nenhuma prévia discussão com seus protagonistas, também se deu (em consonância com as políticas neoliberais) sem nenhum vínculo e compromisso com uma qualidade de ensino desejável. Encontramo-nos no olho do furacão e abençoados os que participam de algum curso de formação continuada, em que podemos refletir e relembrar porque tal relação com o tempo e a aprendizagem foi revisto: quem pertence a velha guarda ainda se recorda dos altos índices de repetência e evasão escolar, não?

Na escola que ora me encontro educadora (lá vou eu falar novamente do Amorim!) esse tempo está determinado no projeto proposto pela comunidade: os alunos são estimulados a estudar seus roteiros de estudo, cada um no seu tempo e com relativa autonomia. Já lhes contei neste fórum como isso acontece. O que não quer dizer que esta questão por lá esteja resolvida. Os roteiros estão muito vinculados aos livros didáticos que ainda seguem a linha cronológica da seriação. Digamos que atenuamos essa questão através da proposta de roteiros temáticos em que selecionamos vários textos e atividades do livro e às vezes de outros livros, também didáticos. Mas garantimos que cada aluno escolha por qual roteiro começar e também a organizar o seu próprio tempo de estudo. Há alunos que dão conta de terminar seus roteiros antes do fim do ano letivo e há alunos que não. É claro que tal proposta não seria possível em salas de aula tradicionais e aqui encontramo-nos na bifurcação da relação tempo e espaço necessário para a sua realização. Daí termos demolido paredes e trabalharmos em salões com vários agrupamentos e grupos e na medida do possível atuarmos como orientadores polivalentes.

O sistema de tutorias (cada professor é responsável por até 18 alunos) garante que, nós educadores, nos concentremos nos problemas de aprendizagem de cada aluno durante toda sua permanência no ciclo, o que não é pouca coisa comparada parcas relações de professores que ministram aulas em apenas determinadas séries e que geralmente chegam ao final do ano letivo sem mesmo saber o nome de muitos alunos.

Enfim, creio que muitos de vocês também tenham experiências muito nutritivas para equacionarmos o problema proposto e mal resolvido sobre a relação tempo-aprendizagem dos ciclos. Mas quero crer também que por conta de sua má implementação e divulgação (intencional?) não façamos parte daqueles que julgam ser este sistema, ou mesmo nós, os responsáveis por não termos ainda nos constituído como redes de ensino democráticas e de qualidade.

Há-braços.
Cris Morales
PS. Este texto foi elaborado para ser publicado no fórum do curso de Teorias e Práticas em que sou aluna.

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