segunda-feira, 14 de novembro de 2011

LAWRENCE STENHOUSE - O PROFESSOR-PESQUISADOR

     Filho de escoceses, Lawrence Stenhouse nasceu em Manchester, na Inglaterra, em 1926. Concluiu o mestrado em educação aos 30 anos. Foi docente da Educação Básica antes de iniciar carreira na universidade. Sua primeira experiência foi na Durham University. Depois se transferiu para o Jordanhill College of Education, em Glasgow, a capital da Escócia. Em 1966, foi convidado a assumir a direção do Humanities Project - um projeto de desenvolvimento curricular do Reino Unido. Nesse cargo, teve a oportunidade de transformar um conjunto de teorias em estratégias que educadores de qualquer nível de ensino podiam utilizar. Aproveitou para incorporar nesse projeto algumas de suas preocupações, como o direito do aluno ao saber, a conexão dos conteúdos escolares com o conhecimento de mundo e a importância do diálogo como método pedagógico. O projeto foi testado durante dois anos, até 1970. Em seguida, Stenhouse criou, com alguns colegas, o Centre for Applied Research in Education, na Universidade de East Anglia, na cidade britânica de Norwich. O objetivo do centro era compreender os problemas da prática docente, sem perder de vista a idéia do professor como pesquisador. Em 1975 escreveu An Introduction to Curriculum Research and Development (uma introdução à pesquisa e ao desenvolvimento curricular), sua obra mais conhecida. Morreu sete anos mais tarde. 

É impossível falar em professor-pesquisador sem citar o nome de Lawrence Stenhouse. A necessidade de utilizar a investigação como recurso didático já era discutida desde a década de 1930, mas foi esse inglês quem jogou luz sobre o tema, 30 anos mais tarde. "A técnica e os conhecimentos profissionais podem ser objeto de dúvida, isto é, de saber, e, conseqüentemente, de pesquisa", justificava. Assim, acreditava ele, todo educador tinha de assumir seu lado experimentador no cotidiano e transformar a sala de aula em laboratório. E, tal qual um artista, que trabalha com pincéis e tintas e escolhe texturas e cores, o profissional da educação deveria lançar mão de estratégias variadas até obter as melhores soluções para garantir a aprendizagem da turma. Em condições ideais, todos seriam capazes de criar o próprio currículo, adequado à realidade e às necessidades da garotada. 

"Suas idéias, que têm mais de 40 anos, estão na pauta da educação atual", diz a professora Menga Lüdke, do Departamento de Educação da Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Rio de Janeiro. De fato, os conceitos mais recentes sobre as competências para ensinar incluem a postura reflexiva, a capacidade de analisar a própria prática e a partir dessa análise efetuar ajustes e melhorias no trabalho de sala de aula. 

Mas nem sempre foi assim. Muitas das propostas de Stenhouse foram desprezadas porque ele procurava resolver problemas - como o da autoridade do professor em sala de aula - com propostas educativas de efeitos de médio e longo prazo. E muita gente, dentro da própria escola, prefere soluções instantâneas. 

Sem medo de aprender

Lawrence Stenhouse dizia que todo professor deveria assumir o papel de aprendiz. Esse é um tema recorrente no pensamento educacional. Muitos dos atuais programas e materiais de educação continuada partem exatamente desta premissa: quem mais precisa aprender é aquele que ensina. Quando o professor está aberto para aprender continuamente, deixa de se comportar como dono do saber. "Creio que a maior parte do ensino que se oferece nas escolas e universidades estimula esse erro", afirmou o pensador na aula inaugural que proferiu na Universidade de East Anglia, na Inglaterra, em 1979, intitulada Research as a Basis for Teaching (A Pesquisa como Base para Ensinar). É por isso que muitas pessoas que passaram pela escola têm com o saber uma relação de pouca autonomia, entendendo-o como reafirmação da certeza autorizada. A elas foi negado o prazer de viver a aventura do conhecimento investigativo. 
Stenhouse foi pioneiro em defender que o ensino mais eficaz é baseado em pesquisa e descoberta. Mais uma vez se pode identificar o pensamento desse notável pedagogo inglês em métodos muito atuais, como os projetos de trabalho. Para que eles funcionem, é preciso, como recomendava Stenhouse, que o professor deixe de colocar-se como autoridade cujo conhecimento não suporta contestação.
 

A autoridade em sala de aula

Na década de 1970, Stenhouse fundou, junto com um grupo de colegas, o Centre for Applied Research in Education, Care (Centro para Pesquisa Aplicada em Educação), dentro da Universidade de East Anglia. Seu objetivo principal era elaborar um modelo de ensino no qual todo professor fosse capaz de manter a autoridade, a liderança e a responsabilidade em sala de aula sem transmitir a mensagem de que só o saber lhe confere esse poder. 

Ele propôs, mais uma vez, um modelo de ensino baseado na pesquisa. Até hoje o Care tem como foco a necessidade de desenvolver nos docentes da Educação Básica a consciência de que a investigação ajuda - e muito - no dia-a-dia. Essa é a versão inglesa do professor reflexivo, idéia cara a outros pensadores europeus. As experiências desenvolvidas na Inglaterra provaram que é possível ser mais autônomo e, ao mesmo tempo, agir de forma coerente com os valores e princípios do projeto educacional. Para Stenhouse, a investigação no cotidiano escolar deveria envolver, além dos professores, também os estudantes e a própria comunidade. É o que passou a ser chamado de pesquisa-ação: classes que servem de laboratório, mas permanecem sob o comando de professores, não de pesquisadores.
 

Stenhouse na escola: autonomia no currículo

Stenhouse estimulou a pesquisa na Educação Básica, mas dizia que o professor também deveria se preocupar em desenvolver o próprio currículo escolar. Para ele, esse processo se daria por meio da reflexão de cada profissional sobre sua prática diária - um conceito, sem dúvida, atual. Muitos afirmam hoje que o docente não deve ser um mero transmissor de conteúdos previamente definidos, mas um sujeito que pensa e analisa criticamente seu ofício. "A investigação é o único meio de construir um pensamento independente e não mais reproduzir o discurso alheio", analisa a professora Menga Lüdke, da PUC do Rio. "Quem tem uma pesquisa competente como rotina fica mais autônomo e tem plenas condições de desenvolver um currículo próprio." Sem esquecer o alerta deixado por Stenhouse: na hora de definir o plano curricular, é preciso sempre trocar experiências com os colegas e os estudantes.

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